Diariamente, um desafio é lançado: uma palavra, apenas uma, que seja capaz de mexer com a criatividade desses oito escritores. Eles deixam os dedos correr no teclado, livres e descomprometidos. O resultado? Uma poesia, uma crônica, um haikai, um conto... Enfim, o que a inspiração deixar. O blog é isso, um convite à criatividade, provocada todos os dias, no finalzinho do expediente.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

A PALAVRA DE HOJE É... SAXOFONE

Por Cristina
Ele gostava de dizer que era seu mentor musical. Ela aceitava e sorria um sorriso intimo, desses que a gente sorri para si mesmo e não demonstra pelo lado de fora; desses que a gente disfarça e que fazem um bem enorme porque se espalham pelo corpo fazendo vibrar cada pedacinho de pele, cada órgão, cada tecido interno. Assim ela gostava de sorrir quando ele dizia isso.
Não queria que ele se sentisse muito importante com seu posto de mentor. Gostava que ficasse na duvida se ela concordava ou não e a cada vez que dizia de novo, ela fazia essa cara de quem nada sentia e por dentro vibrava e ficava contente com o fato dele ser a pessoa que mostrava a ela toda as notas, percebia exatamente o que ela gostava, prestava atenção no que ela dizia a respeito de cada frase musical. Ela gostava destas minúcias nele e das minúcias que ele percebia nela e se encantava com as coisas nele que o faziam diferente das outras pessoas do mundo.
Uma pessoa única era ele que, de tão única na imaginação dela, quase se tornava um instrumento. Por vezes podia ser um violino com notas melodiosas e carinhosas, por outras um violão alegre, havia dias em que era um pandeiro agitado e outros em que se tornava uma piano a soar num fim de tarde. Mas os dias que mais a encantavam eram aqueles em que ele se tornava um saxofone e ela o escutava ao longe e cada vez mais perto, a cada passo um acorde mais alto, ele vinha chegando, vinha aos poucos e ela se tomava pelo molejo do som, seu corpo vibrando, seus ouvidos ouvindo apenas a ele e mais nada, seus movimentos seguindo a musica e então ela se abandonava, se rendia, se perdia olhos nos olhos, misturava-se no sopro que soprava o instrumento, imiscuía-se, se entregava e se dava toda, completamente, a ele.

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