Diariamente, um desafio é lançado: uma palavra, apenas uma, que seja capaz de mexer com a criatividade desses oito escritores. Eles deixam os dedos correr no teclado, livres e descomprometidos. O resultado? Uma poesia, uma crônica, um haikai, um conto... Enfim, o que a inspiração deixar. O blog é isso, um convite à criatividade, provocada todos os dias, no finalzinho do expediente.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Por Mariângela
Quando o som começou a rolar na vitrola,
ela sentiu-se relaxada e pronta a sentar na poltrona.
Era a deixa para aconchegar-se em seu canto
com todos os direitos que aquele momento lhe reservava.
No único espaço em que ninguém se achegava,
garantido após 15 anos de casamento.
Não sabia se aquele não compartilhar é que dava prazer
ou a simples sensação de pertencer-se por uma ou duas horas.
Mas alguma coisa aconteceu naquela noite,
quando na canção o saxofone entrou de sola,
como o uivo da noite de lua cheia, querendo aventurar-se.
Mesmo instante em que o seu homem, há 15 anos,
passava pela porta, rumo a cozinha, para comer qualquer coisa.
Ela pensou porque não ser devorada ali, por ele, naquele canto particular,
ao som do seu blues predileto, que o sax insistia em evidenciar.
Por que não quebrar as regras e ultrapassar as próprias fronteiras?
Por que não deixar que o gosto doce do vinho fosse compartilhado com outra boca?
Foi quando seu homem voltou da cozinha e surpreendeu-se ao vê-la nua, na poltrona do canto,
sussurrando no mesmo tom do saxofone ao fundo: 'Vem?'

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