Diariamente, um desafio é lançado: uma palavra, apenas uma, que seja capaz de mexer com a criatividade desses oito escritores. Eles deixam os dedos correr no teclado, livres e descomprometidos. O resultado? Uma poesia, uma crônica, um haikai, um conto... Enfim, o que a inspiração deixar. O blog é isso, um convite à criatividade, provocada todos os dias, no finalzinho do expediente.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Por Mariângela
Hoje eu fui para o divã do analista.
Faço isso uma vez por semana.
É minha segunda vez em 47 anos.
A primeira durou 12 - os mais difíceis e melhores de minha vida.
Não tinha divã. Nesta fase, há 4 meses, tem.
Deitada ali, olhando para mim mesma, sinto-me ferida aberta.
Como se mergulhasse em um tonel de água oxigenada, sabe?
Que borbulha onde falta pele nova, para que tudo seja limpo.
Volto no tempo e me dou conta de como algumas coisas ainda doem, mais do que pensei.
Mas é só no divã que vivo a sensação de estar sangrando em meus cortes.
No dia a dia, parece que a morfina da rotina mantém tudo adormecido, quase imperceptível.
Só que às segundas-feiras, volto a meter o dedo em cada ferida.
Cutuco, sofro, repenso, choro, como a viúva que perdeu seu melhor parceiro,
e depois descobre que, no fim, ele era um grande sacana!
Saiu cansada, mas um pouco mais cicatrizada nos pequenos buracos negros que abri em minha alma.
Ainda sou colcha de retalhos. Há coisas que não se encaixam. Há dores que não cessam.
Só que hoje, ali deitada e entregue à minha vida, me sei por inteiro, cada parte que ainda desconheço
e cada espaço que preencho de sabedoria ou da teimosia de quem ainda não se perdoa.
Não sei, mas desconfio, que estes poucos meses serão os melhores e mais difíceis de minha vida...

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