Diariamente, um desafio é lançado: uma palavra, apenas uma, que seja capaz de mexer com a criatividade desses oito escritores. Eles deixam os dedos correr no teclado, livres e descomprometidos. O resultado? Uma poesia, uma crônica, um haikai, um conto... Enfim, o que a inspiração deixar. O blog é isso, um convite à criatividade, provocada todos os dias, no finalzinho do expediente.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Por Sócrates
Fé no Neruda.
Na terra, na beleza, no amor.
No sabor do pão sem fermento.
No pão judeu, cristão, muçulmano, hindu, budista e do candomblé.
Ode ao pão.
Fé no Saramago.
No sangue dos fracos
Na palavra, na letra, na oralidade escrita com sangue.
Fé no que virá.
Na vida, no Gonzaguinha e na teologia da libertação.
Fé no Drummond.
Na inocência do Leblon.
Na páscoa sem ovos, sem coelhos, sem dinheiro.
Sem navio negreiro
Fé no Galeano
Na América Latina de Gabriel Garcia Marquez, Simon Bolivar e Che.
Fé no pão e no vinho
Ode ao vinho
do dia
da noite
De copos que não cabem
Na páscoa sem manjedoura
Sem sangue, apenas vinho e pão.

Fé II
Uma senhora de roupas brancas e cabelos grisalhos distribuia sopa na praça.
O Largo do Caranguejo era como um moredouro de pobres.
Aviltavam-se sobre as mãos solidárias da mulher,
que servia na porta da igreja o pão negado pelo padre.
No entorno homens bebiam cerveja, como se fosse vinho. As mulheres passavam como se fossem leprosos a deriva.
O som alto dos carros trocavam diálogo com as palavras do palco, que enceneva a paixão de Cristo. A senhora de roupas brancas pouco a pouco perdia as forças e se via entre as mãos e braços esfomeados. Cristo estava na cruz, enquanto o soldado lhe feria com a lança. A pobre mulher era sucumbida pela fome, enquanto o padre rezava a missa.
O pão viraria mão, o vinho sangue.
E o caranguejo comia os restos deixados na praça.

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