Diariamente, um desafio é lançado: uma palavra, apenas uma, que seja capaz de mexer com a criatividade desses oito escritores. Eles deixam os dedos correr no teclado, livres e descomprometidos. O resultado? Uma poesia, uma crônica, um haikai, um conto... Enfim, o que a inspiração deixar. O blog é isso, um convite à criatividade, provocada todos os dias, no finalzinho do expediente.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Por Mariângela
Trave e goleiro.
Suor pingando pelo corpo.
Tanto correu que foi derrubado na áera. Pênalti.
Pensou na mãe que o assistia em casa.
Também lembrou da esposa, que andava meio desgostosa com ele.
Olhou ao redor e viu o estádio cheio, sangrando emoção desenfreada,
de ferida recente, aberta no último jogo, quando o time perdera feio.
E este era decisivo para mantê-lo na primeira divisão.
Eram 42 minutos do segundo tempo, e mais 3 de prorrogação.
O gol seria a consagração, um aumento de salário, o valor das luvas,
a possibilidade de um contrato fora do País...'vériuel'!!!
O filho, ainda bebê, estudaria em escolas caras e seria um bem sucedido.
O irmão, doente e deprimido, poderia recuperar-se numa clínica 'de bacana'
e sair do manicômio público, onde estava há uma década.
Acabaria com as dívidas que fez para comprar o Audi A6 e a TV de plasma.
Deslancharia finalmente rumo ao sucesso e aos sonhos mais distantes,
como andar de helicóptero ou comer em restaurante com conta de vários dígitos.
A mulher faria plástica e voltaria aos tempos de gostosona, quando o seduziu no baile funk.
Sim... seria a mudança total, o reconhecimento dos vizinhos que duvidavam de seu talento.
O coração batia no compasso da bateria da querida escola de samba.
Esperou o apito que separava o antes do depois, o fracasso da vitória completa.
E assim foi.... apito dado, bola na mira, goleiro do outro lado, as traves posicionadas,
a galera vindo ao delírio e as imagens passando pela mente em velocidade acelerada.
Chutou e fechou e abriu os olhos. Total silêncio no ar.
Viu a trajetória da bola bem devagarinha, indo ao encontro de seu futuro.
A bola quicou no chão, antes de prosseguir, e atrapalhou o adversário.
Mas a trave segurou sua entrada e ela saiu para fora, sem antes bater no goleiro. Escanteio.
Desolado e vaiado pelos milhares de torcedores enfurecidos, foi chorando para a área, posicionando-se na defesa.
E num passe de mágica, a bola que veio do corner, com efeito, chamou-o à cabeçada.
O gol aconteceu aos 47 minutos e sua vida nunca mais foi a mesma, tamanho o susto.
E, hoje, é ele quem está numa clínica 'de bacana'.

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