Diariamente, um desafio é lançado: uma palavra, apenas uma, que seja capaz de mexer com a criatividade desses oito escritores. Eles deixam os dedos correr no teclado, livres e descomprometidos. O resultado? Uma poesia, uma crônica, um haikai, um conto... Enfim, o que a inspiração deixar. O blog é isso, um convite à criatividade, provocada todos os dias, no finalzinho do expediente.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Por Sylvia
Você tem tempo para tomar mais um café? Vai ter paciência de me ouvir novamente? Até já sei o que vai me dizer... não?! Você não sabe do que estou falando?! Pois então...Sempre aquele assunto. Só mudam os personagens...Por mais que me esforce, não consigo, não consigo ser diferente.
Ana ainda não foi embora. Sabe por quê? Não? Não sabe? Dessa vez quis fazer tudo diferente,como você me aconselhou.
Sou atencioso, telefono sempre depois de nossos encontros, procuro ser interessante, generoso na medida de minhas possibilidades... nem digo materiais, não, não é disso que estou falando, é claro, isso é fácil, dispender o que tenho é fácil. O difícil é dar o que não tenho... como fazer isso? Como me importar de fato com o que ela diz, com suas questões, com suas angústias? Como? Como? Você me falou mil vezes, mil vezes você disse que preciso sair de mim, que não sou o centro do mundo, que preciso perder o medo. Mil vezes você me disse. Então... fiz tudo que estava na planilha. Você estranha a palavra?! Pois é meu amigo, planilha...Assim teria mais controle da situação. Fiz colunas e linhas para organizar datas e saídas, presentes, idas ao restaurante, viagens, conversas sobre nós, número de relações sexuais por semana, cinemas, teatros que detesto, discussão de livros, palestras, convites a casais amigos, flores, caixas de chocolate, pequenas surpresas. Pareço estar agradando, Ana responde a todas essas gentilezas com afeto, muitas vezes com paixão. E minha desconfiança cresce. Sim, já sei o que vai falar, que sou maluco, que invento coisas para não ficar com uma mulher, que começo a criar situações intoleráveis até que ela não aguente e vá embora. Pois resolvi escutar seus conselhos, estou seguindo à risca a planilha, não vou estragar nada, por isso chamei você aqui hoje. Mais um café? Talvez um uísque agora, estou precisando de um. Aceita? Puro? Sei que gosta puro, sem gelo. Está difícil, muito difícil. Entrei em pane, sim pane...me sinto um motor de altíssima qualidade, um Mercedez, um avião, um foguete supersônico que está falhando. E se esse carro estiver em alta velocidade, se esse avião, esse foguete estiver voando, uma pane no motor...

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