Diariamente, um desafio é lançado: uma palavra, apenas uma, que seja capaz de mexer com a criatividade desses oito escritores. Eles deixam os dedos correr no teclado, livres e descomprometidos. O resultado? Uma poesia, uma crônica, um haikai, um conto... Enfim, o que a inspiração deixar. O blog é isso, um convite à criatividade, provocada todos os dias, no finalzinho do expediente.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Por Cristina
Acho que o motor pifou. Provavelmente foi isso, não sei como dizer.
Começou com um cansaço, sensação de repetir os dias, acordar na mesma hora, o mesmo caminho...Quando percebi fazia o caminho sem raciocinar, e quando chegava ao destino levava um susto. Como se o carro fosse sozinho, coisa estranha.
Ao chegar movimentos iguais diariamente, guardar a bolsa, colocar óculos e celular sobre a mesa, ligar computador, buscar água enquanto e-mails baixam, sentar com o corpo reto para não ficar com dor nas costas, tomar água a cada uma hora, atender telefones falando meu nome, responder e-mails e não deixar nenhum assunto para depois, ler e-mails pessoais, não demorar muito tempo com coisas pessoais, cafezinho no meio da manhã, almoço com as mesmas pessoas na mesma hora...Sem contar o e-mail particular para ele, por que mando sempre na mesma hora? Se não responder o dele ele acha que não estou me importando e mais tantas coisas, tantas coisas que se for descrever até o fim do dia acabo constatando coisa pior do que já constatei.
Resolvi parar de repetir: não colocaria a bolsa no mesmo lugar, não faria o mesmo caminho e mais não a tudo o que se seguia na lista de constatações.
Mas foi quando saí de casa que o imprevisto aconteceu. Não consegui colocar o pé no acelerador. Fiquei parada na porta da garagem, imóvel. Procurei conter meus pensamentos mas foi impossível.
Pane, terror, tristeza profunda.
De qualquer maneira o caminho seria sempre o mesmo e o computador teria de ser ligado e os e-mails lidos e o trabalho realizado e todo o resto, todo o resto e o resto todo que se repetiria, sempre.
Respirei fundo e fui em frente, como se passo a passo, como se com a pressão baixa, como se em esforço supremo. Mas fui, secando as lágrimas uma a uma.

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